Em um mundo tão cheio de mágica tenra — desde o sono de criancinhas a amantes sorrindo, as amizades que duram, as flores que desabrocham, a esperança púrpura no nascer do sol, a magnitude voraz do sol se pondo, o esplendor do corpo humano, as glórias frágeis da natureza, até a maravilha dos animais, a capacidade de perdoar, a misericórdia de Deus, a gentileza de estranhos, e uma lista que poderia seguir até ficar claro que realmente não há fim para as múltiplas expressões do amor na Terra — mas também há outra coisa.
E o que é? Por que — em um mundo que pode ser levado às lágrimas por uma obra de arte — também existe o molestamento, o estupro, os inocentes com gargantas cortadas, os prisioneiros mantidos cativos injustamente, as crianças famintas, a tortura, o genocídio, a guerra, a escravidão e todo tipo de sofrimento horrendo e desnecessário que existe por nenhuma outra razão além do fato de alguém ser cruel o suficiente para infligi-lo, ou alguém que não se importar o suficiente para impedi-lo? Que força é essa que existe em nossa mente e no mundo, que parece agir inexoravelmente, causando o sofrimento e a destruição das coisas viventes? Se Deus é amor, por que o mal existe? Vivemos em um mundo de constante justaposição entre a alegria possível e a dor excessivamente comum. Esperamos por amor, sucesso e abundância, mas nunca chegamos a esquecer que há sempre uma possibilidade de desastre à espreita. Sabemos que existe o bem no mundo, mas também sabemos que há outra coisa. E estamos vivendo uma época em que a competição entre os dois é intensa e vem crescendo. O que quer que leve o ser humano a odiar, destruir e matar assumiu uma força coletiva como nunca antes, conforme a tecnologia e a globalização agora lhe deram a capacidade de não apenas atingir, mas atingir a todos, juntos, como um. Nunca houve uma necessidade tão grande de se desmantelar essa força — o que quer que ela seja —, que despreza tanto o amor e pretende destruir a todos nós. Essa não é apenas uma força que procura nos causar algum inconveniente. É uma força que deseja nos ver mortos. No entanto, essa força, na verdade, é uma antiforça. Ela não faz muita coisa sozinha, como nos conduz a fazer. É um lugar onde esquecemos quem somos e, consequentemente, agimos como não somos. É uma escuridão que, como toda escuridão, não é presença, mas ausência de luz. É um buraco negro no espaço psíquico que existe quando a luz deixa de ser vista por um momento. E a única luz verdadeira é o amor. O problema quanto ao que fazer com essa escuridão — chamada de muitos nomes, mas aqui sob a terminologia de "sombra" — é uma questão que atormenta a humanidade desde o princípio. Segundo sabemos, jamais houve na Terra uma comunidade ou civilização onde o amor prevalecesse o tempo todo. No entanto, continuamos a sonhar com isso. Tal estado, conforme certas religiões do mundo, é chamado de paraíso. Certas religiões e textos espirituais sugerem que temos uma memória antiquíssima desse estado, embora não tenha a ver com a Terra. Foi nosso começo espiritual, uma dimensão de amor puro de onde viemos e para o qual fervorosamente ansiámos por regressar. O fato de vivermos durante períodos, na maior parte do tempo, tão separados desse estado de amor puro é uma ruptura de proporções tão intensas a ponto de traumatizar todos os momentos de nossa vida. Da mesma maneira que o planeta se move tão rápido que nem sentimos o movimento, somos traumatizados em nível tão profundo que nem sabemos ter o trauma. Separados do amor, estamos separados de Deus. Separados de Deus, estamos separados de nós mesmos. E, separados de nós mesmos, ficamos insanos. Nas palavras de Mahatma Gandhi: "O problema do mundo é que a humanidade não está em seu juízo perfeito". Este é, de fato, o problema do mundo. Há um local em que ingressamos, tanto individual quanto coletivamente, que é a ausência de quem somos e do que estamos aqui para fazer. É uma inversão de poder, uma perversão da identidade, uma subversão de nossa missão na Terra. O problema é que isso não é tão óbvio quando estamos aqui, pois este é um lugar de grave confusão cósmica. Quando estamos separados do amor, somos inclinados a sentir que a raiva é justificada, que culpar o outro é simplesmente razoável, e o ataque a alguém é a autodefesa correta, mesmo quando não é. Ou pior. Às vezes, uma pessoa — eventualmente, nações inteiras — pode se tornar tão sugada ao buraco negro da falta de amor que fica sob efeito das mais extremas e até hediondas intenções, pois essa coisa, que não é, de fato, uma coisa, não está inerte. A consciência humana é como uma luz-guia que nunca se apaga. O problema é que ela está acostumada a gerar um calor que produz vida, ou um incêndio que a destrói. Onde não há amor, há medo. E o medo, depois de se apossar da mente, é como um vício que ameaça esmagar a alma. Então, é essa coisa que chamamos de sombra. Ela não aparece na vida da maioria de nós; é um fogo gigantesco, mas arde como brasa lenta. É você, ao fazer uma afirmação tola, magoando alguém que ama e possivelmente arruinando um relacionamento. Ou você, quando faz algo imbecil que sabota a carreira profissional. Ou você, ao pegar um drinque, sabendo que é alcoólatra e que, se continuar, isso vai matá-lo. Em outras palavras, é aquele você, dentro de você, que não deseja seu bem. É a sombra, e ela só pode ser eliminada se você deixar brilhar a sua luz. O amor de Deus habita ali dentro e se estende para fora de nós, a cada momento, a cada dia. Quando estamos vivendo em alinhamento com o self verdadeiro, conforme Deus nos criou, recebemos amor constantemente, e o estendemos da mesma forma como o recebemos. Isso é o que significa viver na luz. No entanto, por mais racional que possa ser, não parece sensato quando alguém se porta de maneira desmerecedora de nosso amor. Em um momento assim, estender amor àquela pessoa parece a coisa errada a fazer, e conter o amor parece o certo. Naquele momento, aquele pequenino pensamento de desamor — que parece uma coisinha de nada, apenas um julgamento racional — é a raiz do mal. É o alicerce do sistema de raciocínio da sombra, pois ele envolve a separação de Deus e o surgimento da culpa. Deus nunca retém amor, e chegamos à sanidade aprendendo a amar como Deus ama. Nossa tarefa, se queremos banir a sombra, é aprender a ter apenas pensamentos imortais, embora vivamos no plano mortal. As formas de nosso pensamento superior erguerão a frequência do planeta e, então, o mundo se transformará. Mas e quanto ao agora? O que nos faz esquecer quem somos, consequentemente apagando a luz e dividindo o mundo em dois estados diferentes — amor e medo? É um pensamento: o de que alguém é culpado. O modo como lidamos com a imperfeição humana é a questão essencial que decide se habitamos a sombra ou a luz. Deus não vê uma pessoa que cometeu um erro da maneira como vemos. Deus não procura nos punir quando cometemos erros, mas sim nos corrigir. Quando voltarmos ao nosso juízo perfeito, amando de forma incondicional e inabalável, aí sim, o mundo em si vai se corrigir. Isso não significa que perdemos o discernimento, os limites ou as células cerebrais. O amor divino não é uma fraqueza. O amor de Deus não é um amor pegajoso. Nem sempre é do tipo "legal", rosa e felpudo. Ele envolve a expressão da verdade, o tipo de verdade que o coração conhece, mesmo quando a mente resiste a ela. Ele tem menos a ver com estilo e mais com substância. Há maneiras muito ternas de reter o amor, colocando ênfase excessiva na compreensão parcial das palavras "positivo" e "sustentador"; e há formas de estender o amor com uma honestidade do tipo asperamente realista, que só mais tarde parecerá ter sido amor. Está na hora de todos nós encararmos o amor com muita seriedade. Segundo as palavras do dr. Martin Luther King Jr., é hora de injetar "um novo significado nas veias da civilização humana". Precisamos expandir o senso de amor além do pessoal, mas também além das implicações sociopolíticas. Somente ao fazê-lo baniremos a escuridão que agora paira sobre o mundo como um fantasma. Vivendo na escuridão, estamos vivendo na sombra. E, na sombra, o sofrimento reina.
PODE NÃO SER REAL, MAS CERTAMENTE PARECE SER
Às vezes, você tem uma briga com alguém que ama e nem consegue acreditar que seja verdade. Parece um pesadelo. Você ouve a si mesmo dizendo: "Isso não pode estar acontecendo!" E isso é porque não está — você está perdido num universo paralelo, numa alucinação de separação e conflito. Anos atrás, disse a mim mesma para não me preocupar com o Diabo, porque ele estava em minha mente. E me lembro do que aconteceu em seguida. Simplesmente fiquei ali, em pé, parada, pensando que, de fato, esse era o pior lugar em que ele poderia estar. Não me sinto tão consolada pela idéia de que não há Diabo por aí, à espreita no planeta, em busca da minha alma, quanto fico boquiaberta com a idéia de que há uma tendência eternamente presente dentro do meu pensamento de me perceber sem amor e, consequentemente, me fazer infeliz. Então, de onde veio essa "tendência"? Se Deus é amor, e amor somente, e Deus é todo-poderoso, como foi que surgiu uma força oponente? A resposta, metafisicamente, é que, na verdade, não surgiu. Nada existe além do amor de Deus e as palavras de Um curso em milagres: "Aquilo que tudo contém não pode ter oponente". O princípio do livre-arbítrio é a razão objetiva para explicar o surgimento de um mundo ilusório que, de fato, não existe, mas parece fortemente existir. Podemos pensar o que quiser. No entanto, nossos pensamentos têm poder, independentemente do que pensamos, pois nosso poder criativo vem de Deus. A lei de causa e efeito garante que experimentaremos o resultado daquilo que escolhemos pensar. Quando pensamos com amor, estamos criando junto com Deus e, desse modo, criando mais amor. No entanto, quando pensamos com amor, fabricamos medo. Isso significa que temos mentes divididas. Uma parte nossa habita a luz, eternamente uma com o amor de Deus. Porém, outra parte de nós — a parte que está mais frequentemente alinhada ao mundo mortal — habita a escuridão. E esse é o self sombrio. Deus não vê a sombra, pois, não sendo amor, ela, de fato, não existe. No entanto, sendo todo amor, Ele registrou nosso sofrimento quando caímos na escuridão e nos proveu uma cura instantânea. Naquele momento, Ele criou uma alternativa amorosa para nossa insanidade imposta e nosso medo. Essa alternativa é como um embaixador que reside conosco, no mundo da escuridão, sempre disponível para nos conduzir de volta à luz se o pedirmos. Esse embaixador tem muitos nomes, desde Ajustador do Pensamento até Espírito Santo. Para nosso propósito aqui, o chamaremos de Iluminador. Em Um curso em milagres, é dito que não somos perfeitos, ou não teríamos nascido — mas é nossa missão nos tornarmos perfeitos aqui. É nossa missão transcender a sombra e nos tornarmos nosso verdadeiro self. O Iluminador age como uma ponte entre o self sombrio e nossa luz. Ele foi autorizado por Deus a usar todas as forças do céu e da Terra para nos guiar para além da escuridão e de volta à luz. E o faz, em primeiro lugar, nos lembrando de que a escuridão não é real. Quando estamos perdidos na escuridão, nosso maior poder está no chamado do Iluminador, cuja tarefa é separar a verdade da ilusão. Fazemos isso por meio da prece e pela nossa disposição. "Estou disposto a ver essa situação de maneira diferente" é uma frase que dá ao Iluminador a permissão para entrar em nosso sistema de raciocínio e nos conduzir da insanidade de volta à verdade. Alguns anos atrás, fui visitar uma amiga que já estava com várias amigas em casa quando cheguei. Uma mulher no grupo tinha um jeito muito afetado de falar, de um modo tão intenso que toda vez que ela falava eu tinha a sensação de que alguém esfregava as unhas num quadro-negro. É claro que minha mente estava disparada em julgamento, já que eu não conseguia entender como alguém podia ser tão afetado no jeito de falar. Como alguém que busca o caminho, eu sabia que o problema não estava com a mulher, mas dentro de mim mesma — era minha falta de compaixão. Fiz uma prece em silêncio e expressei minha vontade de vê-la de modo diferente. Quase instantaneamente, ou assim me pareceu, outra mulher na sala disse para aquela que eu estava julgando, tão vorazmente: — Soube que seu pai foi solto da prisão. É verdade? Enquanto ouvia, observei o desenrolar da história. Embora não me lembre dos detalhes específicos, recordo que aquela mulher ficou presa em cativeiro pelo próprio pai, durante toda a infância, no porão de casa. Ela acabou sendo resgatada e o pai foi para a prisão, por muitos anos. Ao ouvir o sofrimento dessa mulher, percebi por que ela falava daquele jeito. Literalmente, não tivera um modelo saudável enquanto crescia; nem sabia como falar naturalmente, e estava fazendo o melhor para montar o que considerava uma personalidade normal. Os mesmos maneirismos que haviam brotado em mim, cinco minutos antes, como julgamento, agora faziam surgir em mim uma profunda admiração e compaixão. Ela não havia mudado, mas eu sim. Ao rezar, chamei a luz. O Iluminador entrou no mundo da escuridão e me tirou do sombrio, julgador, ao me dar uma informação que substituiria meus pensamentos de medo por pensamentos de amor. E onde, nesta vida, havia obtido minha tendência para julgar com tanta aspereza? Partindo de uma perspectiva metafísica, não nasci com isso. Não nascemos no pecado original, nem no erro, mas na mais pura inocência. Aparentemente, tenho uma memória do momento de meu nascimento muito poderosa. Não tenho como saber se é mesmo verdade, mas sempre tive essa lembrança. Lembro de ver a luminária que fica pendurada em cima da mesa cirúrgica, o que aumenta minha sensação de que é verdade. Segundo essa lembrança, vim ao mundo com uma quantidade infinita de amor para dar, além de qualquer coisa que me permiti sentir, desde então. Mas isso foi em 1952, quando os médicos ainda achavam que deviam dar um tapa nos recém-nascidos para que respirassem. Então, no momento em que sentia esse amor extraordinário saindo de mim, em direção a todas as coisas vivas, naquele exato momento, senti que fui estapeada. O médico, a quem eu já amava, me bateu. Recordo de ter ficado absolutamente confusa, magoada e traumatizada. Por que ele faria isso? Não podia acreditar que aquilo tinha acontecido. A partir daí, minha mente deu um branco. Caí dentro de alguma coisa, seja lá o que for, e foi tudo. Aquela lembrança, ou seja, o que for, fala à questão da possibilidade de termos nascido com a sombra. A resposta é não; nascemos do amor perfeito. Mas, quem quer que sejamos, ou pelo que quer que passemos, algo ou alguém - frequentemente com a melhor das intenções — nos lança no reino da sombra, e a tarefa do resto de nossa vida será sair da escuridão e regressar à luz. Desde aquele momento, como recém-nascida — aquela separação traumática do amor que representou dentro de mim a separação de toda a humanidade do amor que trazemos em nosso âmago —, ficaria eternamente tentada a perder o amor de vista. Tendo sido negada ao amor, mesmo que por um instante, agora fico tentada a negar amor aos outros. E o propósito da minha vida, assim como o propósito da vida de todos nós, é lembrar-se do amor interior, recordando sua presença em todas as outras pessoas. A mulher na casa de minha amiga, por mais admirável que fosse, primeiro me tentou ao julgamento. Mas eu pedi ajuda e recebi. Assim que tive vontade de enxergar a luz nela, a minha luz voltou. E a sombra se foi.
ONDE NÃO HÁ AMOR, ESPERE O MEDO
Qualquer pensamento que não seja revestido de amor é um convite para que a sombra entre. Somos levados a acreditar no mito da neutralidade: que não precisamos realmente amar, contanto que não causemos dano. Mas todo pensamento cura ou causa dano. O poder criativo infinito do pensamento garante que qualquer coisa que escolhermos pensar resultará em efeito. Se não escolho amar — se escolho reter meu amor —, naquele momento é criado um vácuo psíquico. E o medo se apressa em preencher o espaço. Isso se aplica aos meus pensamentos sobre os outros e sobre mim. Tendo focado nos aspectos da sombra de outra pessoa, não posso deixar de entrar nos meus: o aspecto da raiva, do controle, da carência, da desonestidade, da manipulação, e por aí adiante. Uma vez que entro na escuridão de culpar e julgar, fico cega para enxergar minha luz, e não consigo achar meu self melhor. Ou, tendo esquecido a verdade essencial do meu ser — deixando de apreciar a mim mesma, por não apreciar a luz divina que reside em mim —, facilmente caio na armadilha do comportamento autodestrutivo. Entrego-me a qualquer forma de sabotagem pessoal que fará os outros se esquecerem, como eu me esqueci, de quem realmente sou. Seja atacando os outros, ou atacando a nós mesmos, a sombra prove a tentação aos pensamentos de destruição e insanidade. A mente, em seu estado natural, está em comunicação constante com o espírito do amor. Mas a sombra, como o amor, tem seus embaixadores dentro de nós — pensamentos que nos atraem constantemente, um convite a perceber as coisas de modo isento de amor. "Ele disse que me contrataria e não contratou; é um idiota." "Ela tem uma política que me enoja; não a suporto." "Pode comer o bolo inteiro; não faz diferença o que o médico disse." "Não faz mal se você ficar com esse dinheiro; ninguém vai saber." O mundo está dominado pelos pensamentos de medo, e somos constantemente encorajados pelas crenças da sombra. Na falta da prece ou da meditação — experiência de amor compartilhado entre o Criador e a criatura —, somos facilmente tentados a perceber tudo sem amor. Em consequência, ingressamos na zona sombria dentro de nós. Se projetamos a culpa nos outros, ou de fato ferimos alguém, ou até chegamos a nos envolver em um comportamento dependente ou de repulsa pessoal que fira primordialmente a nós mesmos, a sombra exerce uma influência horrível. Mas por que devemos nos surpreender? A maioria de nós acorda, pela manhã, e efetivamente entrega a mente à escuridão. A primeira coisa que fazemos é ligar o computador, ler o jornal, ligar o rádio ou a televisão no noticiário. Baixamos formas de pensamento de medo, literalmente do mundo inteiro, permitindo que nossas mentes, no momento em que mais estão abertas a novas impressões, sejam influenciadas pelo pensamento baseado no medo que domina nossa cultura. É claro que reagimos a partir da sombra, pois tudo o que vimos é sombra! É claro que nos sentimos deprimidos, infelizes, insatisfeitos e cínicos. O mundo está dominado pelo pensamento baseado no medo e no plano mortal; o medo fala primeiro e mais alto. Não há escuridão para analisar aqui; é a luz que temos de acender! De modo a evitar as garras da sombra, precisamos constantemente ir em busca da luz. A voz do amor é chamada, tanto no judaísmo quanto no cristianismo, de "pequena voz" de Deus. Essa é a voz do Iluminador, e até mesmo cinco minutos de meditação matinal séria pode garantir que ela guie nosso pensamento ao longo do dia. Como o mundo melhoraria se mais de nós cultivássemos o sagrado na vida diária. Nossas ocupações frequentemente são o nosso inimigo, dificultando a desaceleração por tempo suficiente para respirar no éter dos planos espirituais. Da mesma maneira como às vezes nos sentamos diante do computador para baixar um arquivo, sabendo que não há nada que possamos fazer para apressar o processo, também não há como dar apenas um rápido aceno para o amor e sair correndo pela porta, esperando que os reinos da escuridão e do medo não invadam nosso dia. Ao desacelerar, ficamos mais inclinados a cultivar a quietude. Nosso estilo de vida é em geral uma presa aos pensamentos sombrios, por nenhuma razão além de ser excessivamente ruidoso. Televisão demais, computador demais, excesso de estímulo exterior diminuem a luz que só é encontrada no pensamento reflexivo e contemplativo. O silêncio é um músculo comportamental que construímos, dando-nos a capacidade de mais facilmente transformar as energias invocadas pelo self sombrio. Outra forma de cultivar a luz é comungar com outros, em um espaço sagrado. Em grupos espirituais reunidos por amor e devoção — religiosos, ou outros —, o campo de amor é ampliado, de modo que eleva todos os membros do grupo a uma vibração superior. Quando você está na igreja, na sinagoga, em uma reunião de doze passos ou em outras meditações em grupo, ouvir seu coração parece natural. Seu self sombrio parece distante, nem evidente, nem acionado. A tentação de adentrar a sombra ainda existe e é preciso lidar com ela, mas uma das formas de diminuí-la é juntar-se aos outros na busca pela luz. Quando estamos com outras pessoas que estão dizendo "Eu quero ouvir meu coração. Preciso perguntar qual seria o ato mais amoroso; quero ser ético, quero ouvir a voz de Deus", então, fica mais fácil viver dessa forma. Como qualquer outro hábito, torna-se mais fácil de cultivar quando estamos ao redor de outros que estão fazendo o mesmo. Ao desenvolver os hábitos da prática espiritual, você se baseia na luz do verdadeiro ser. Se não fixar sua base, não se surpreenda quando fizer ou disser coisas das quais se arrependerá mais tarde. Em um dia comum, na vida de uma pessoa comum, o número de pensamentos sombrios que surgem é astronômico. Fazemos o melhor que podemos, tentamos ser bons, mas o cérebro está constantemente ativo, e a tendência ao pensamento baseado no medo está sempre ali. Mas o Iluminador também está sempre ali. E o Iluminador está autorizado por Deus a nos dar qualquer ajuda que precisemos. Um dia, conversando com meu terapeuta, compartilhava com ele que me sentia em um lugar muito negativo. Disse-lhe que estava em um lugar de autoaversão. Ele me perguntou: - Qual é o seu caso contra você mesma? Respondi: - Eu me odeio por ser tão negativa. — Eu via a ironia, mas não conseguia rir. Talvez conseguisse. Ele sugeriu que eu tentasse algo: - Entre no fluxo da gratidão — sugeriu. — Sempre que você tiver esse tipo de pensamento negativo, comece a dizer todas as coisas pelas quais deve ser grata. E descobri que essa técnica é muito poderosa. Durante horas eu vinha numa agitação negativa, mas, assim que comecei o fluxo de gratidão, foi como se minha sombra tivesse desaparecido, do mesmo jeito que a Bruxa Malvada derreteu quando Dorothy jogou água nela. E foi o mesmo fenômeno, realmente. A sombra sequer é real. Só parece ser. E, assim que ela é exposta à luz, a escuridão desaparece. O problema, então, não era a presença da negatividade, mas a ausência da positividade! Assim que preenchi minha mente com gratidão, o traço sombrio de autoaversão já não tinha como existir. Na presença do amor, o medo some. Mas não vamos subestimar o poder da sombra. Não é suficiente meditar só de vez em quando; devemos meditar diariamente. Se você é um dependente em recuperação, não é suficiente ir a uma reunião de vez em quando; você deve frequentar as reuniões diariamente. Não é suficiente perdoar algumas pessoas; precisamos dedicar os melhores esforços para perdoar todos, pois só o amor é real. Se eu o negar a alguém, estou negando-o a mim mesma. Amar só quando é fácil não é o bastante; temos de tentar expandir a capacidade de amar quando é difícil. As sombras que estão à espreita hoje, em nossas próprias circunstâncias e ao redor do planeta, exigem nada menos que a iluminação sagrada se quisermos bani-las. E cada um de nós pode acrescentar poder à luz ao acrescentar poder ao amor. É claro que amamos nossos filhos, mas já não é suficiente amarmos apenas os nossos filhos. Temos que amar as crianças do outro lado da cidade, e do outro lado do mundo. É bem fácil amar aqueles que concordam conosco e nos tratam bem. Precisamos aprender a amar aqueles com quem não concordamos e que não tenham necessariamente nos tratado com justiça. Da mesma maneira que trabalhamos para aumentar os músculos, temos de trabalhar para aumentar a capacidade de amar. Somente uma coisa pode triunfar sobre nosso self inferior e sombrio: o self superior. Ele habita dentro do amor mais sublime de todos: o amor de nosso Criador, em quem não há escuridão, nem sofrimento, nem medo. É psicologicamente irreal subestimar o poder da sombra, mas é espiritualmente imaturo subestimar o poder de Deus. A prece não é apenas um símbolo; é uma força. A meditação não é só algo que nos relaxa; é algo que harmoniza as energias do universo. O perdão não é apenas o que nos faz sentir melhor; ele literalmente transforma o coração. Todos os poderes que emanam de Deus são poderes que nos libertam. Para a sombra, a luz é um inimigo. Mas, para a luz, a sombra não 6 nada. Ela simplesmente não existe.
A PROPÓSITO, ELA ESTÁ EM MOVIMENTO
A consciência é uma energia dinâmica, criativa. Ela não é inerte, estagnada. Está sempre se expandindo; qualquer que seja a direção, está se movendo. O amor sempre constrói sobre o amor e o medo sempre constrói sobre o medo. A sombra é um impulso inexorável na direção do sofrimento e da dor. No entanto, como é que essa coisa — que em si mesma é uma ilusão, que em si mesma não tem vida — age como se existisse? A resposta para isso é que, embora o medo em si não seja real, o poder do pensamento que o conduz é. O medo é como um dispositivo explosivo e o pensamento é o míssil que o conduz. A mente é criada para ser um condutor do divino, levando explosões de amor, mas o livre-arbítrio significa que podemos dirigi-lo de outra maneira se assim escolhermos. Sua mente está sempre estendendo amor ou projetando medo, assim como inconscientemente está planejando como fazer mais da mesma coisa. A sombra é sua mente voltada contra você mesmo. Assim como Lúcifer era o mais belo anjo do céu antes de cair, e uma célula cancerígena era uma célula normal e ativa antes de enlouquecer, a sombra é o próprio pensamento voltado à direção errada. É a aversão própria, mascarada como amor-próprio. Sua sombra é tão inteligente quanto você, pois ela é a própria inteligência cooptada pelos propósitos do medo. Ela tem todos os atributos da vida, porque se anexou a ela. E, como tudo que é vivo, busca preservar a si mesma. Sempre que o amor está perto, a sombra se torna particularmente ativa, de modo a se guardar contra o próprio fim. Ela sabe que o amor é seu único inimigo real. Quando a sombra pressente o amor, quando sente a luz em você, ela literalmente defende a própria vida. A sombra tentará, de qualquer maneira possível, invalidar, sufocar, transformar o bom em errado dentro de você, pois ela sabe que, a partir do momento que você se lembrar da luz do self verdadeiro, ela irá embora. Portanto, a sombra luta. Daí a conhecida frase: "O amor nos faz perder o juízo". Você conhece alguém com quem sua alma sente uma ligação sagrada? Cuidado, é provável que você faça algo estúpido na presença dessa pessoa. Você tem uma chance extraordinária de manifestar seus sonhos? Cuidado, é provável que você sabote essa oportunidade. E essa é a sombra: a irmã gêmea malvada do seu melhor self. Até que haja um movimento consciente que se distancie do medo em direção ao amor, a energia dinâmica do medo agirá como uma força destrutiva que não faz prisioneiros. Ela pode levar a algo aparentemente pequeno, como um incidente, no qual você diz algo tolo, porém inofensivo, ou com consequências que levem a ações que podem arruinar a sua vida. Não devemos subestimar seu poder, nem duvidar de sua malignidade, pois a sombra se agita — às vezes, de um modo lento e demorado, às vezes, mais rapidamente -, mas é sempre intencional em direção à dor. Nos Alcoólicos Anônimos é dito que o alcoolismo é uma "doença progressiva". Isso significa que não é contida; se você tem um problema com álcool hoje, então terá um problema maior amanhã, a menos que lide com ele. E seu objetivo final é a destruição, beirando morte. Na dependência, o alcoolismo não tem a ver só com o álcool; tem a ver com o momento em que a força da sombra atormenta o corpo e a alma. E a razão para que milhões de dependentes tenham ficado sóbrios com a ajuda do A A é porque o programa deixa claro que somente uma experiência espiritual pode salvá-los. Só Deus é poderoso o suficiente para superar a sombra, qualquer que seja sua forma. Quando Jesus disse, na Bíblia, que deveríamos regozijar, pois ele havia "vencido" o mundo, a palavra que ele escolheu é particularmente fascinante. Ele não disse que tinha "consertado" o mundo. Ele disse que tinha "vencido" as forças sombrias sendo erguido ao reino da consciência, onde as formas de pensamento inferior já não tinham poder para limitá-lo. E esse é o desafio que a sombra nos faz: que cheguemos tão alto, luz acima — à profunda sanidade de uma perspectiva superior e amorosa —, que a sombra em si ficará impotente.
SOMBRAS COLETIVAS
Todos nós reconhecemos quando ela tem uma forma individual: uma pessoa zangada, controladora, desonesta, violenta etc. Porém, às vezes, é de igual importância reconhecer a sombra coletiva. Os grupos, tais como nações, são feitos de indivíduos; sendo assim, não é de surpreender que as características da personalidade dos membros apareçam no comportamento coletivo do grupo. Mas o que é menos óbvio é como a energia criada em um grupo — seja ela amorosa ou temerosa — é ampliada; a energia de duas ou mais mentes pensando da mesma forma não é apenas uma soma das duas; ela aumenta exponencialmente. O terrorismo é um exemplo. Uma ideologia patológica pode se espalhar como um câncer, por uma população inteira. Uma vez que haja um número grande o suficiente de membros participantes do pensamento destrutivo que forma a ideologia, a força combinada de suas energias pode mesmo estarrecer até os tecnologicamente mais avançados fornecedores de força bruta. A razão por que isso ocorre é que o real poder do terrorista não se encontra em suas raízes ideológicas, mas na fervorosa convicção pela qual tantas pessoas são atraídas. Os terroristas têm convicção, e é aí que está o poder deles. Nosso poder de superar a intensidade destrutiva está em nossa habilidade de amar com a mesma convicção que eles demonstram ao odiar. Odiando com convicção, eles atraem mais ódio; quando amamos com maior convicção, atraímos mais amor. Da mesma maneira que pessoa alguma é perfeita, nenhum grupo é. A sombra se esconde na consciência alerta, tanto do indivíduo quanto da coletividade, sempre se mostrando como luz, embora seja a essência da escuridão. Uma citação de Ralph Waldo Emerson descreve a sombra como nacionalismo quando ela se apresenta como patriotismo: "Quando uma nação inteira está bramindo o patriotismo, a plenos pulmões, ficaria feliz em examinar a limpeza de suas mãos e a pureza de seu coração. "É comum que nos momentos em que um grupo mais esteja violando seus princípios ele alegue defendê-los mais entusiasticamente. A sombra é ardilosa na forma como encobre suas pegadas, seja usando a religião como disfarce para queimar pessoas em postes, ou o patriotismo como fachada para os infortúnios imperialistas. Mas, da mesma forma que a sombra coletiva pode nos levar para baixo, a luz coletiva nos leva ao alto. Qualquer grande literatura, expressões populares como contos de fadas, filmes como Avatar e livros como a série Harry Potter, e, obviamente, as práticas genuínas de religião ou espiritualidade em grupo, são todos exemplos de fachos de luz coletiva. No filme Avatar, a sombra coletiva da América contemporânea é apresentada abertamente. Vemos o perigoso casamento do capitalismo predatório com o farto poderio militar norte-americano, uma petulância intelectual que desautoriza a deferência aos princípios espirituais, um descaso arrogante pelo que há de sagrado no meio ambiente e uma tendência imperialista para que se pegue o que se queira, por nenhuma outra razão que não seja querer. A feiura da sombra norte--americana ganha um holofote nesse filme de jogo de paixão. No entanto, o que eleva a história além do ato de simplesmente apontar o dedo em crítica é o nível de iluminação em sua perspicácia quanto à luz, que nunca está muito distante da sombra. O Iluminador está sempre pronto a dar alternativa à escuridão, atraindo corações amorosos até a cena sombria da mesma forma como as células vermelhas do sangue são atraídas ao ferimento. Sim, há personagens no filme que representam o melhor de nós, e isso é importante. Dentro de cada indivíduo, assim como de cada grupo, existem os melhores anjos da natureza. Assim como a escuridão, eles estão em movimento (note que anjos sempre são retratados com asas, enquanto o Diabo não é). E, no panorama maior das coisas, a luz sempre ganha no final. Nas palavras de Martin Luther King Jr.: "O arco moral do universo é longo, mas ele se inclina em direção à justiça". Podemos esquecer a verdade, mas o universo jamais esquece. Cada pessoa e cada grupo de pessoas têm uma sombra; isso não nos torna maus. Isso nos torna humanos. A questão não é odiar a sombra, pois esse sentimento é simplesmente nossa parte ferida que precisa ser curada. A questão também não é negar a sombra, pois a escuridão só é dispersada quando há luz. Temos de enfrentar a sombra, como indivíduos e como grupos; fazê-lo não é um ato de aversão própria, mas de amor--próprio. Os verdadeiros peregrinos são aqueles que enfrentam sua escuridão e se rendem ao poder do amor; verdadeiros patriotas são aqueles que enfrentam a escuridão da nação e se rendem ao poder da verdade. Mesmo quando estamos perdidos na sombra, há uma parte nossa que sabe mais. Em um grupo que apresente um comportamento errado, sempre há indivíduos que se atem à verdade — sejam os alemães arianos, que esconderam os judeus durante a Segunda Guerra, arriscando a própria vida, ou terráqueos que heroicamente saem em defesa da civilização na'vi, de Pandora, em Avatar. Há evidência histórica assim como míticas tradições do triunfo final do amor. O significado da Segunda Guerra não está na perversidade de Hitler, mas no brilhantismo e sacrifício daqueles que o derrotaram. O arquétipo da verdade de Avatar não está na violência praticada contra os na'vi, mas também na forma como a violência acabou. O ponto máximo das grandes histórias religiosas não está na crucificação, mas na ressurreição; não está na escravidão dos israelitas, mas na libertação da Terra Prometida. Agora, em nossa época, com tantas sombras ameaçando, convém lembrar que as sombras parecem muito escuras, mas nada são diante da verdadeira luz. Essa verdade pode ser muito difícil de aceitar quando todas as evidências racionais apontam não somente para a realidade da sombra, mas também para sua permanência. No entanto, o milagre da iluminação não vem de uma evidência racional; ele literalmente "cai do céu", um símbolo consumado para os reinos da pura potencialidade. O potencial para a descoberta emerge quando nosso abraço proativo da luz é maior que o medo do escuro. Não conseguimos perceber aquela luz com os olhos do corpo. É uma realidade que invoca um tipo diferente de visão. A manifestação mortal é "real", mas o amor imortal é "Real". Nas palavras de Albert Einstein, quando falava do mundo físico, "A realidade é meramente uma ilusão, embora seja uma ilusão muito persistente". Se nos identificarmos apenas com o mundo mortal, então o medo, de fato, parece justificado. Mas, se estendermos nossas percepções além desse mundo, veremos as coisas de uma luz mais alta e esperançosa. Vemos que está programado na verdadeira natureza das coisas que o amor sempre se reafirma. Embora estejamos fadados a cair na sombra — a descender no submundo psíquico dos locais ainda não curados — também temos a garantia de libertação. O Iluminador é uma presença eterna, ativa não somente dentro do coração individual, mas também na psique coletiva. Quando os indivíduos se humilham, pedindo perdão e correção, a misericórdia chega. E o mesmo é verdade para um grupo. Quando o chanceler alemão Gerhard Schröder se desculpou com o povo polonês pelo assassinato de meio milhão de poloneses durante a Segunda Guerra, e o papa João Paulo II se desculpou pela Inquisição, tais "purificações da memória", como foram chamadas essas admissões de culpa pelo falecido papa, chamaram uma luz da consciência celeste e sombras foram dissipadas. Os indivíduos estão seguindo o caminho do destino, assim como os grupos. Às vezes, damos dois passos em direção ao amor, depois damos um passo atrás, voltando à sombra. Mas a sedução da luz é, em última análise, muito maior que a atração do escuro.
BOAS INTENÇÕES NÃO BASTAM
A mente moderna tem uma autoestima indignamente alta; ela é arrogante na crença de poder simplesmente "decidir" o que quer, depois fazer com que aconteça. No entanto, pensamos nas coisas que recaem fora de seu alcance: o fim do sofrimento desnecessário, a paz mundial, um planeta. Por que, em um mundo tão cheio de gênios, a sombra ainda espreita e causa tantos problemas? Uma das razões para que o mundo moderno continue sob o efeito da sombra é que ele falha ao reconhecer as raízes metafísicas dela. O mal é uma energia, assim como o amor. Ele surge a partir do medo, e o medo vem da ausência do amor. Tentar erradicar a escuridão só com meios materiais é lidar com o efeito, e não a causa. Você pode cortar uma verruga, mas ela crescerá de novo se a raiz não for queimada. E as raízes do mal não são materiais. Mas há uma diferença entre a energia imaterial que é simplesmente mental e o tipo que é espiritual. Hoje em dia, muita gente tem uma visão presunçosa do poder da "intenção". Mas, na verdade, como é dito em Um curso em milagres, suas boas intenções não bastam. Para os alcoólatras, simplesmente pretender não beber mais não funciona; apenas pretender ser um cônjuge melhor não é o bastante, quando o necessário é uma mudança efetiva de comportamento. No entanto, às vezes, a mudança de comportamento que se faz premente não é fácil de realizar. Uma mera intenção de melhorar pode ser sobrepujada pelo poder da sombra. A sombra pode superar nossas melhores intenções e somente o amor pode superar a sombra. O amor é Deus e Deus é amor. Seja quando as pessoas O chamem pelo nome "Deus" ou simplesmente abram mão de toda a resistência ao amor — e, nesse caso, Deus está presente, mesmo que não seja reconhecido — o poder divino do amor é o único grande o suficiente para banir o mal. Seja o conhecimento de que alimentar mais crianças famintas do mundo é uma das melhores formas de eliminar futuras ameaças terroristas, ou entregando nossos defeitos de caráter para que Deus cure, pedindo que eles sejam removidos, há uma deferência ao poder superior do amor, sem o qual não podemos superar o poder do medo. A toca da sombra não está em sua mente consciente, mas em seu subconsciente. Você não decide, conscientemente, tomar uma atitude tola. Você não decide, conscientemente, dizer algo que fará seu cônjuge odiá-lo. Você não decide conscientemente se embebedar no casamento de sua filha e estragar tudo. "Foi o Diabo que me fez fazer" não é uma noção tão chula quanto parece. Boas intenções fazem o Diabo rir. Mas o que não o faz rir é a prece, a reparação, o perdão e o amor. Essas coisas o fazem ir embora. O que levanta a questão da religião. Se a religião é um condutor para o amor divino, por que ainda há tanto mal à espreita no mundo, e mesmo em nossas classes? Como foi que uma das maiores instituições religiosas do mundo passou a abrigar pedófilos entre os padres? E a resposta, obviamente, é que algumas religiões nada têm a ver com Deus. Na verdade, a sombra — força energética oponente a Deus — adora brincar nos campos da religião. Ela adora confundir e é definitivamente atordoante à mente quando doutrinas ou dogmas baseados em amor, na realidade, são um disfarce para a mais grosseira ausência dele. Se uma pessoa religiosa odeia, Deus não está presente. Se um ateu ama, lá está Ele. Como está escrito em Um curso em milagres, em relação à frase da Bíblia que diz: "Deus não deve ser escarnecido", Ele não o será. No entanto, quando se busca o discernimento religioso, é importante não jogar fora o bebê junto com a água da banheira. A raiz em latim da palavra "religião" é religio, que significa "prender de volta". A religião verdadeira — seja no contexto de uma instituição organizada ou uma espiritualidade mais universal — nos religa à verdade de quem somos, ao amor em nosso âmago e à compaixão que cura. A única forma de superar a sombra é nos tornarmos nosso verdadeiro self, e o que for preciso fazer para chegarmos a esse lugar é, na essência, uma experiência religiosa; para algumas pessoas, essa é uma experiência na igreja, na sinagoga, na mesquita ou em um santuário; para alguns, essa é uma experiência da natureza; para outros, é a experiência de segurar o filho nos braços pela primeira vez. A questão não é o que nos leva à experiência, mas o que nos acontece ao chegarmos lá. Algo muda dentro de nós depois de regressarmos ao âmago de nosso ser, ainda que só por um instante. Isso nos dá um gostinho do que é possível dentro de nós e ao redor. Ergue-se o véu que encobre a realidade do amor, a extensão de nosso verdadeiro poder. Uma vez que estejamos realinhados com nossa natureza essencial, teremos o poder para fazer a sombra desaparecer. Segundo Um curso em milagres, "milagres ocorrem naturalmente, como expressões de amor". Sempre que nosso coração estiver aberto, a escuridão é repelida pela luz. Enquanto isso — seja num remédio que não inclua uma perspectiva holística, uma religião que não inclua amor, uma terapia que não inclua um poder superior, ou um relacionamento que não inclua uma dimensão sagrada —, a sombra irá pairar ao redor da porta, até algum momento em que o medo apareça. Então,quando acontecer, ela penetrará por entre a escuridão e fincará uma estaca no coração do sonho de alguém.
ASSUMIR E REPARAR
Não importa quanto entendemos da sombra, a questão é nos livrarmos dela. Porém, para fazer isso, primeiro precisamos assumi-la. A solução para o problema da sombra, tanto no pensamento judeu quanto no cristão, é o princípio da reparação. É a ideia de que, uma vez que tenhamos reconhecido nossos pecados e os entregado a Deus, com verdadeiro remorso, seremos libertados das consequências espirituais. ("Pecado" deriva de um termo da prática de arqueiro, que significa que você errou o alvo; o significado da palavra "pecado" é "erro".) Buda descreveu a lei do carma, o que basicamente significa causa e efeito — ação, reação, ação, reação. O princípio da reparação significa que, em um momento de graça, o carma ruim é queimado. Reparação é um tipo de botão de reset cósmico, pelo qual os pensamentos sombrios mortais são desfeitos e substituídos pela perfeição do amor. Na religião católica, a prática da confissão é uma experiência contínua de reparação, conforme os penitentes confessam seus pecados e pedem perdão a Deus. Na religião judaica, o Dia da Reparação, ou Yom Kippur, é o dia mais sagrado do ano. Nesse dia, os judeus admitem e pedem perdão por todos os pecados cometidos durante o ano; eles pedem a Deus a chance de serem inscritos por outro ano no Livro da Vida. Nos Alcoólicos Anônimos, os dependentes são aconselhados a fazer um destemido inventário moral, admitindo seus defeitos de caráter e pedindo a Deus que os remova. Todos estes são exemplos de processos espirituais pelos quais a sombra, quando trazida à luz, é transformada pelo poder de reparação. A reparação existe porque é necessária. Todos somos humanos, somos magoados, e nos tornamos presas do lado sombrio da existência humana. Sim, todos nós caímos, mas não estamos sem os meios de levantar. No entanto, de modo a fazê-lo, precisamos nos comprometer com o poder que reconstrói nossas asas. Precisamos estar dispostos a trazer nossa escuridão para a luz e conscientemente entregá-la a Deus. Digamos que eu percebi que uma situação difícil em minha vida foi causada por um erro ou defeito do meu caráter. Talvez eu fosse controladora em um relacionamento e isso gerou um conflito com um amigo ou membro da família. A reparação me chama a reconhecer meu aspecto sombrio — nesse caso, minha natureza controladora — e pedir a Deus que o remova. Como discutimos antes, não basta dizer "Está certo, eu não serei mais controlador". Essa é certamente uma boa resolução e pode conduzir ao longo caminho da correção do comportamento. Mas, quando um traço é realmente um padrão de sua personalidade — uma faceta sombria que você usa e que, de fato, é você, em seu pior, ou quase pior —, isso se tornou entranhado na matriz comportamental. Não basta apenas decidir ser diferente, porque a sombra já passou por cima dos poderes normais de tomada de decisão. Uma vez que a personalidade sombria já se desenvolveu — seu lado cínico, invejoso, raivoso —, a cura requer de você uma reparação: que você assuma a responsabilidade pelos danos que já possa ter causado e peça a Deus que modifique seu coração. É essencial que olhemos profundamente para nossos pensamentos e ações — particularmente onde cometemos erros. Ao fazê-lo, estamos nos dirigindo não apenas a nossa sombra individual, mas também à coletiva. E a cura do mundo acabará emergindo não de nossa mudança, nem por corrigirmos os outros, mas da vontade de mudar e corrigir a nós mesmos. Desde que todas as mentes estejam unidas, a habilidade de autocorreção tem influência corretiva no universo inteiro. De maneira muito real, é a única coisa que tem essa influência. Essa correção pode começar com um pequeno cutucão da consciência. A consciência é uma vergonha saudável — um desconforto temporário que não vem da sombra, mas da luz. Afinal, somente um sociopata é isento de qualquer remorso. Isso é parte do que nos torna humanos, algo em nós que sabe quando estamos errados. O processo de reparação envolve coragem, compaixão e honestidade com você mesmo: "Eu levanto esse assunto. Percebo que é uma mágoa minha. Estou disposto a olhar para isso e disposto a mudar." Em uma situação difícil é muito fácil jogar toda a culpa nos outros. Mas aquele que verdadeiramente busca diz: "O que foi que eu fiz de errado? Qual foi a minha participação no desastre?"
Se não identificarmos onde somos desonestos, ásperos, impiedosos, desrespeitosos, gananciosos, dominadores etc, então não podemos mudar aquilo. Se apenas reprimimos a sombra, tentando rejeitá-la, ela existe como uma fração desintegrada de nossa personalidade. E não temos poder sobre o que não examinamos. Seja o que for, aquilo agirá como um terrorista emocional entranhado na psique, capaz de nos armar uma emboscada a qualquer hora. Ela se fará conhecida, em uma situação ou outra, como um grito psíquico que não podemos ignorar. Essa é a forma brilhante da natureza de nos forçar a ver algo, pois nada atrai tanto nossa atenção quanto passar por um desastre pessoal sabendo que nós causamos aquilo. A sombra age como uma série de minas terrestres em sua personalidade. Você acha que está indo muito bem — você montou sua lista, sua organização, seu plano de negócios, sua vida financeira —, que está tudo muito bem organizado e, de repente, faz algo que estraga tudo. Você mal pode acreditar. Ninguém vacilou — foi você que o fez. E você finalmente percebe que, até lidar com essa parte de sua personalidade, provavelmente vai vacilar de novo. Uma vez perguntei a uma mulher: - Você está em um relacionamento agora? E ela disse: — Eu me detesto quando estou num relacionamento. Prefiro não estar. Muita gente se identifica com isso. Dizemos a nós mesmos: "Nem quero sair. Nem quero atrair um relacionamento, ou uma oportunidade de negócios, nem coisa nenhuma, até que eu tenha curado essa minha parte que certamente vai sabotar o que vier a acontecer". É preciso coragem para olhar profundamente para si mesmo, mas, até que o façamos, não podemos ter liberdade nem paz reais. Por isso, queremos ser cautelosos para não enfatizar demais uma viagem fácil e rápida rumo à felicidade. A iluminação nos traz alegria, mas não imediatamente. Primeiro, precisamos enfrentar a mágoa que está diante dela. Precisamos dedicar um tempo para refletir sobre nossas disfunções, nossas sombras, porque, a menos que as observemos, elas permanecerão no mesmo lugar. Mas isso pode ser difícil. Saramos através de um processo do tipo desintoxicante e, às vezes, temos de passar por sentimentos difíceis que surgem para ser revistos. Algo emerge da sombra de nossa mente subconsciente, dando-nos a chance de ver isso claramente, e ficamos horrorizados em pensar que somos assim. Mas não somos deixados nesse lugar sem a ajuda do Iluminador. Se assim escolhermos, podemos entregar a escuridão e pedir que ela seja curada. Deus não vai nos tirar aquilo que não Lhe entregarmos conscientemente, pois fazê-lo seria uma violação do livre-arbítrio. Mas o que realmente entregamos e procedemos à reparação é transformado. Tal trabalho interior pode ser doloroso, mas é vital e inevitável. A dor emocional é importante, da mesma maneira que a dor física. Se você quebrasse uma perna e não doesse, como saberia que precisaria ser engessada? A dor física é a forma que o corpo tem de dizer: "Olhe isso. Cuide disso. Atenção com isso". E com a dor psíquica é a mesma coisa. Às vezes, precisamos dizer: "Preciso cuidar dessa dor. Por que ela está aí? O que essa situação está tentando me dizer? Que parte minha eu preciso tratar?" Se você vai ao médico com o joelho machucado, o médico não dirá "Bem, vamos olhar esse cotovelo". Com Deus é a mesma coisa. O ferimento precisa ser visto. E o médico, tanto o humano quanto o divino, não está ali para julgá-lo, mas para curá-lo. Freqüentemente, tememos dar uma boa olhada para a sombra, porque queremos evitar a vergonha e o constrangimento que pode vir ao admitir nossos erros. Achamos que, se olharmos profundamente para nós mesmos, ficaremos expostos demais. Não queremos olhar para a própria sombra, porque tememos aquilo que podemos ver. Mas a única coisa que realmente devemos temer é não olhá-la, pois nossa negação da sombra é exatamente o que a alimenta. Em princípio, você diz: "Eu não quero olhar para isso, porque me detesto". Mas, depois, completa: "Não, eu tenho que olhar para isso, pois, de outra forma, não tenho como entregar isso a Deus". E, quando o fizer, algo maravilhoso vai lhe acontecer. Um dia, vi algo em mim que vinha evitando por ser doloroso demais. Mas, quando olhei, tive uma surpresa inesperada. Em vez de sentir aversão própria, fui inundada por uma compaixão por mim mesma, porque percebi quanta dor tive que passar para desenvolver aquele mecanismo. Todos somos sagrados; no entanto, o problema é que nossas cicatrizes não se mostram assim aos olhos de outras pessoas. Em vez disso, elas se mostram como defeitos de caráter. Se uma criança de três anos está berrando e chorando, é provável que digamos: "Oh, coitadinha, ela está cansada". Mas quando você é uma pessoa de quarenta anos chorando e berrando — mesmo que sua dor esteja diretamente relacionada ao trauma da época dos três anos de idade —, as pessoas não dirão "Nossa, ele está tão cansado". Dirão: "Ele é horrível". Seus defeitos de caráter não dizem respeito a você ser mau, mas sim a estar ferido. Não importa quem ou o que causou o ferimento, agora ele é seu e você é responsável por ele. Nem importa onde arranjou seus defeitos de caráter. Agora eles são seus. Você não pode viver com uma placa no pescoço onde esteja escrito: "Não é culpa minha. Meus pais eram difíceis". Sua única forma de sair desse enigma é assumir total responsabilidade por esses defeitos. Seus defeitos de caráter são sua forma de se sabotar, o meio de ferir a si mesmo e aos outros. Por isso, você precisa encarados. Até assumir total responsabilidade por sua experiência, você não conseguirá mudar isso. Porém, uma vez que tenha verdadeiramente olhado para si mesmo, pode começar a se curar. Você abriu os olhos e agora vê. "Vejo que fiz isso. Admito. Entendi. Farei o resgate do meu erro. Estou disposto a fazer reparações. Quero fazer a coisa certa. E agora rezo para me tornar uma pessoa melhor." Nos momentos em que você se expressou segundo sua sombra, você não acordou de manhã e disse "Acho que vou ser um babaca hoje". Você não entrou na reunião e pensou "Vou dizer e fazer coisas que farão as pessoas me rejeitarem". Não, naqueles momentos você não percebeu que estava fazendo algo parecido. Você estava sob o Efeito Sombra. A sombra o lançou à escuridão e você ficou cego para a luz. E, portanto, sofreu. A sombra nos leva a fazer algo imbecil, depois nos pune terrivelmente por termos sido tão tolos. A sombra não tem piedade, mas Deus tem. Inferno é o que a sombra cria aqui e amor é o que nos liberta disso. A reparação é um aspecto do amor de Deus. Ao fazer reparações, somos libertados dos padrões de disfunção e da trajetória de acontecimentos que eles geraram. Esse é o milagre da transformação pessoal. Depois de entregar a Deus as nossas decisões erradas do passado, podemos dizer, com a frase de uma prece de Um curso em milagres: "Não me sentirei culpado, pois o Espírito Santo irá desfazer todas as consequências de minha decisão errada se eu deixar que Ele o faça". Uma vez que fizer a reparação com o coração sincero, você será libertado do redemoinho cármico de seu drama sombrio. Depois de assumir o que somos na sombra, podemos prosseguir na jornada de volta à luz. Não somos curados pintando nossos problemas de rosa, fingindo que eles estão ali ou colocando a culpa de tudo em outras pessoas. Saramos ao saber que qualquer sombra que esconda nossa luz está sediada na própria mente. É nossa responsabilidade admitir que ela está ali, abrir a porta para Deus e deixar que Ele faça brilhar a luz para afastá-la. Ele sempre o fez, sempre o fará.
PERDOE A SI MESMO, PERDOE AOS OUTROS
Alguém pode tê-lo magoado quinze anos atrás e você ainda não se conformou quanto ao que aquela pessoa lhe fez. Mas, se for honesto consigo mesmo, talvez tenha magoado alguém quinze anos atrás e nem prestou atenção nisso nos últimos catorze anos. Somos mestres em ver o que os outros nos fizeram, mas nem tanto ao olhar o que talvez tenhamos feito aos outros. A sombra não tem problema algum em focar na própria sombra — contanto que seja a sombra de outras pessoas! "Ele está se expressando segundo sua sombra, ela está se expressando segundo sua sombra, e todos os outros estão se expressando segundo suas sombras. Mas eu? Que sombra?" Mais danos são provocados pelas pessoas que pensam ter tudo sob controle do que pelas pessoas que são humildes para perceber que talvez não tenham. As pessoas que olham profundamente para a sombra sabem que ela não é apenas uma coisinha, ou um erro trivial — é uma força cósmica oponente à bondade do mundo, que aproveita qualquer oportunidade para lançar a destruição ao coração humano. Não há oportunidade maior para a sombra que pensarmos que todos os nossos problemas estão em outras pessoas. Uma projeção de culpa nos outros é algo endêmico ao mundo mortal. Desde o momento em que nascemos, nos ensinam um sistema de crença que retorça nosso senso de separação: "Sou meu corpo e você é o seu. E Deus está fora de nós dois". Mais percepções fracionadas emanam do senso de separação que de qualquer outra coisa. Primeiro de tudo, eu sou separado de Deus; depois, sou separado de minha fonte e me sinto traumatizado pela forma como um bebê é traumatizado quando é arrancado da mãe. Esse trauma induz ao medo e, então, fico inclinado a ser provocado por qualquer pessoa ou situação que pareça me privar do que acho necessário — mesmo que esse não seja o caso. Minha sombra provavelmente irá se manifestar como paranoia ou carência. Segundo, se sou separado do resto do mundo, então me sinto impotente, já que sou tão pequeno e o mundo é tão grande. Essa sensação de separação me leva a crer que sou fraco, quando, na verdade, como filho do divino, tenho fontes de força interior. Minha sombra então provavelmente irá se manifestar enquanto eu estiver com minha pequenez e me sentindo medroso demais para assumir minha força. Terceiro, se estou separado das outras pessoas, estou separado da experiência de amor e unidade que é meu direito de nascença como ser humano. Não posso evitar sentir uma solidão existencial em vez do prazer que deveria sentir na companhia de outras pessoas. Minha sombra provavelmente se manifestaria como apego excessivo aos outros, um complexo de superioridade ou inferioridade, um comportamento manipulador, defensivo, ou uma personalidade dominadora ou controladora. Por último, todos os aspectos de separação citados antes envolvem um senso de separação do self, a partir de onde emergem todas as outras formas de sombra. Se sou separado de mim mesmo e meu verdadeiro selfé o amor, estou separado do amor. Minha sombra provavelmente se manifestaria como qualquer coisa que não fosse amor, direcionando isso a mim ou aos outros, desde o abuso de substâncias até a violência. Como todas as manifestações da sombra estão enraizadas nas ideias de separação, a cura do pensamento errôneo de que somos separados do resto da vida — de nosso Criador, das outras pessoas e das outras coisas — é a solução fundamental para o problema da sombra. A reconciliação da mente e do espírito, o regresso da alma ao seu conhecimento divino, é o ponto de iluminação que vem banir toda a escuridão. E o que é a luz que vemos quando nossas mentes são reconciliadas com a verdade? Não só vemos que somos um com os outros, mas também que todos carregamos sementes do divino. Fomos criados por Deus, à imagem de Deus, à semelhança de Deus. Somos perfeitos como todas as suas criações. Merecemos ter, de nós mesmos e dos outros, a mesma misericórdia que Deus demonstra a cada um de nós. E, quando nos lembramos disso — quando nossas mentes foram curadas da ilusão de que nossas sombras nos definem —, a demonstração de misericórdia e perdão virá naturalmente. O importante não é a forma que a sombra assume. A questão é que a sombra se desenvolveu por uma razão, e apenas uma. Em um instante, o amor partiu — ou assim você pensou. Não importa se ele se foi na forma do abandono de uma mãe ou da raiva de um pai. O que importa é que nesse momento traumático você perdeu o contato consciente com a experiência do amor de Deus. E ficou temporariamente insano. Agora, a cada vez que aquele trauma é provocado, você fica novamente insano. A questão não é o que causou o trauma. Não é de importância fundamental que drama mortal levou a isso. O que importa é que seu espírito seja recuperado. O que importa é que você seja religado ao amor agora, que sua mente seja curada de sua insanidade agora, que você perdoe a si mesmo e aos outros agora. O perdão não significa ver a escuridão e lhe dar anistia. Em vez disso, significa ver a escuridão, mas decidir deixá-la passar. E deixá-la passar não porque você está em negação, mas porque sabe que a sombra não é real. Há negação real e negação positiva. Você simplesmente está negando o que não está ali. Quando você está carente, esse não é seu eu real. Quando está interpretando, esse não é seu eu real. Quando está zangado, esse não é seu eu real. Seu eu real é divino, amoroso, e desafia o ser. Ele pode ficar temporariamente invisível, escondido atrás de um véu, mas não pode ser desfeito, pois Deus o criou. Estará sempre ali. A sombra é um .self ilusório, a máscara de um impostor. Ela possui efeitos "reais" dentro do mundo mortal — desde a sabotagem a si mesmo até a repelência aos outros —, mas o perdão significa estender sua percepção além do real até o Real, além da escuridão mortal até a luz eterna. E, quando vê a Realidade, em si mesmo e nos outros, você ganha poder para evocá-la. Somos curados quando nos sentimos perdoados. Saramos na presença da compaixão. Se você realmente quer que alguém mude, o milagre está na habilidade de ver quão perfeito ele é. A sombra não vai embora quando é atacada, mas promove a cura quando é perdoada. Não removemos nossa máscara sombria na presença de alguém que nos culpa, mas na presença de alguém que diz, através de palavras ou comportamentos: "Eu sei que isso não é você". Milagrosamente saramos na presença de alguém que acredita em nossa luz, mesmo quando estamos perdidos em nossa escuridão. E, quando aprendemos a ver os outros na luz de seu verdadeiro ser, estando ou não sob essa luz, temos o poder de realizar esse milagre por eles. O perdão é uma ação, mas ele surge de uma postura. Pode ser difícil perdoar alguém cujo comportamento nos magoou, a menos que tenhamos baseado nossas percepções em um esforço constante para enxergar além da escuridão da personalidade. A prática espiritual é a chave para nosso poder, como condutores de luz, pois não podemos estender a paz se não a cultivamos. Nossos pensamentos e atitudes precisam de treinamento persistente em um mundo tão decidido a nos convencer de que somos quem não somos e de que não somos quem, de fato, somos. O pensamento do amor é completamente oposto ao pensamento que domina esse mundo; por isso, precisamos constantemente ser lembrados da luz. Da mesma forma que você toma um banho pela manhã para tirar do corpo a sujeira de ontem, deveria fazer a sua prática espiritual pela manhã para tirar da mente e de seu coração o pensamento de ontem. O mundo está constantemente nos atraindo a pensamentos de medo — ataque, defesa, raiva, julgamento etc. — em vez de amor. Ele constantemente tenta nos convencer de que a sombra é real e a luz não é. "Fulano é um babaca. A culpa é dele. Fulano é culpado." Ou, ao contrário: "Eu sou um babaca. A culpa é minha. Sou culpado". No entanto, projetar a culpa em si mesmo acaba sendo uma blasfêmia, tanto quanto projetá-la nos outros. O verdadeiro perdão significa saber que ninguém, de fato, é culpado. Todos nós somos inocentes aos olhos de Deus. Nossa luz é que é real, não nossa escuridão.
"NÃO RESISTA AO AMOR"
Considerando que Buda foi iluminado sob a árvore Bodhi e abriu o caminho para uma vida de compaixão; que Moisés simplesmente tocou o mar e ele se abriu; que Jesus ressuscitou e voltou dos mortos, seria de esperar que levássemos esses exemplos mais a sério. Deveríamos pensar em aplicar suas mensagens com mais consistência, abrindo nosso coração, abrindo mais as águas, erguendo-nos acima de nossas ilusões. Embora bilhões de almas professem a crença nas religiões do mundo, há um passo evolutivo que parecemos não dar. A humanidade fica empacada na sombra, apesar de todos os seres de luz e das mensagens de amor que surgiram ao longo da história. Os grandes mestres e professores iluminados são nossos irmãos mais velhos de evolução, seres que atualizaram a luz divina que reside dentro de todos. Toda religião é uma porta a essa luz, mas frequentemente a porta permanece fechada. E por quê? Por que, em razão do sofrimento que a sombra impõe, não abraçamos a luz com mais seriedade? Em meu livro Um retorno ao amor, um parágrafo parece ter tocado as pessoas. Nele há uma frase que talvez seja o motivo: E nossa luz, e não nossa escuridão, que mais nos amedronta. Mas que grande "Bingo!" parece surgir das pessoas quando elas leem essa frase. Se formos honestos conosco, percebemos que o problema não é tanto o fato de sermos aprisionados pela sombra, mas o fato de evitarmos a luz. Resistimos ativamente à emersão em nosso melhor self. E, enquanto não lidamos com isso, o padrão de esquiva prossegue, sem questionamento ou contestação. A única forma de escapar da sombra é ser maior que ela, deixá-la cair como a roupa velha e gasta que ela é, e tornar-se o gigante espiritual que cada um de nós deve ser. Por mais bizarro que possa parecer, nossa sombra é uma zona de conforto. Contanto que estejamos sendo fracos, não temos responsabilidade alguma de ser fortes. Não devemos a ninguém o brilho, contanto que permaneçamos na escuridão. Nosso hábito emocional é evitar a luz. Talvez digamos que estamos esperando que a luz brilhe sobre nós, mas ela não pode brilhar sobre nós, pois ela brilha de nós. Em algum lugar, lá no fundo, sabemos disso. Nosso maior medo não é que sejamos inadequados. Nosso maior medo é ter poder além das medidas. Estamos prestes a dar um passo imenso rumo à luz do verdadeiro ser, não apenas como indivíduos, mas como uma espécie. E, de alguma forma, ainda nos retraímos. No momento final do "devo, ou não devo?", na verdade, estamos fingindo para nós mesmos que temos uma escolha. Qual é a sua alternativa para ficar limpo e sóbrio? Morrer de doença? Qual é sua alternativa ao perdão? Tornar-se amargo e duro? Qual é a nossa alternativa para enxergar o sagrado na natureza? Que destruamos a terra? Qual é a nossa alternativa à paz? Explodirmos o mundo? Na verdade, a sombra diria sim a essas coisas, com um repertório clássico do traiçoeiro e do insano. "Beba outro drinque; não tem nada de mais. Nunca se esqueça do quanto isso dói. Sempre haverá pobres. A terra ficará bem, não se preocupe." — E a melhor de todas para a época em que vivemos é: "O quê? Você é compassivo em relação ao terrorismo ou algo assim?"
Acontece uma mágica quando você simplesmente diz não. "Não, eu não quero mais ser fraco. Não, eu não quero mais agir estupidamente. Não, eu não quero mais ser conhecido pelos meus defeitos. Não, eu não quero mais desperdiçar meus talentos. Não, eu não quero mais fingir ser pequeno." E também há mágica quando aprendemos a dizer sim. "Sim, farei uma escolha para amar e farei essa escolha todos os dias. Sim, eu me dedico à luz e sou proativo na escolha de servi-la." Em um "casamento sagrado" com o amado divino, eu não apenas me comprometo com possibilidades e perspectivas superiores, mas — igualmente importante — renuncio a todas as outras. É claro que você poderia se tornar cínico. Claro que poderia se tornar amargo. É claro que poderia simplesmente seguir com a maré. A questão é que você não escolhe mais isso. Perguntamos a nós mesmos: Quem sou eu para ser brilhante, deslumbrante, talentoso e fabuloso? Na verdade, quem é você para não ser? Você é um filho de Deus. Interpretar um papel pequeno não serve ao mundo. Não há nada de iluminado em se encolher para que os outros não se sintam inseguros perto de você. Nascemos para tornar manifesta a glória de Deus, que está dentro de nós. Não apenas em alguns de nós, mas em todos. E, ao deixarmos brilhar nossa luz, inconscientemente damos às outras pessoas a permissão para fazerem o mesmo. Ao sermos libertados de nosso medo, nossa presença automaticamente liberta os outros. Chegamos a um ponto onde a humanidade viajará a uma direção ou outra. Estamos sendo forçados a escolher um caminho de medo ou amor. Estamos nos deslocando em direção à escuridão ou à luz. Sabemos o que o caminho do medo oferece. Se os pensamentos de ataque alcançam um nível suficientemente alto — digamos, algumas centenas de bombas nucleares lançadas ao redor do mundo —, a insanidade da sombra finalmente seria saciada, pois, então, tudo seria escuridão. E quanto ao caminho ao amor? Como seria um mundo de luz? Será que nossos olhos físicos poderiam ver tudo isso? Uma vez, tive um sonho que jamais esquecerei. Entrei em uma sala muito parecida com um restaurante. Todos se viraram, entusiasticamente, para cumprimentar a nova pessoa que havia chegado. No meio da sala havia um chafariz gigante, e junto às paredes ao redor as pessoas estavam sentadas em espaços que pareciam cisnes enormes. As outras cores da sala eram azul, verde e turquesa. Todos das mesas estavam envolvidos numa conversa muito alegre. Era o ambiente mais feliz que eu já pude imaginar. Quando acordei, meu primeiro pensamento foi que ali devia ser o céu. Vi o sonho dessa maneira, até ler, em Um curso em milagres, que a frase "o céu e a Terra passarão" significa que eles não mais existirão como dois estados separados. O ponto principal daquele sonho não era a aparência do céu, mas a aparência da Terra. Viveremos na Terra como fizeram nossos irmãos mais velhos de evolução — no entanto, assim como eles, só teremos pensamentos celestiais. Viveremos na Terra, mas conheceremos a alegria celeste. Viveremos em um mundo que agora está saturado de medo, mas a luz dentro de nós brilhará com tanta intensidade que a escuridão não existirá mais. Penso que a maioria de nós acredita, lá no fundo, que podemos emergir e nos tornar as pessoas que somos capazes de ser. Podemos pôr em prática nosso potencial divino. Podemos nos tornar uma espécie de consciência repleta de luz, em cuja presença toda a escuridão automaticamente desapareça. Podemos. E isso não é um sonho. Como qualquer um de nós escolhe, a qualquer hora, o amor acima do medo, acrescentamos uma grande onda de amor que está lavando o mundo, mesmo agora. Pelo bem dos recém-nascidos, e a exuberância do novo amor, pela glória da natureza e a maravilha dos animais, pela misericórdia de Deus e pelo bem de nossos netos, para honrar e preservar o pôr do sol — é a hora.
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